Por mais que sejamos reservados em nossas atitudes, creio que todos possuímos colegas e AMIGOS em nossas vidas, afinal, somos todos seres sociais. Da mesma forma, imagino que quase todos nós, possuímos AMIGOS com os quais mantemos verdadeiros laços familiares...são os AMIGOS/IRMÃOS.
Isto ocorre, pois somos regidos pelas leis da sintonia, pelas quais somos atraídos e atraímos, para nosso universo particular, espíritos encarnados e desencarnados, que possuem o mesmo tipo de frequência vibratória que nós mesmos, ou seja, nossos pensamentos e atitudes acabam nos fazendo ter afinidade e conviver, mesmo que não percebamos, com aqueles que tem o mesmo tipo de emanação mental .
Além disso, nosso núcleo familiar consanguíneo é o primeiro agrupamento em que nos
compete fazer o Bem. Mas não é o único, pois nossa família é a
Humanidade inteira.
Jesus explica o conceito de família espiritual na passagem do Evangelho de Mateus, capítulo 12, versículos 46 a 50:
“Enquanto ele ainda falava à multidão, a mãe e os irmãos dele estavam de
fora, procurando falar-lhe. E alguém disse-lhe: ‘olha, tua mãe e teus
irmãos estão lá fora e procuram falar-te’. Mas ele respondeu ao que lhe
falava: ‘quem é minha mãe e quem são meus irmãos’? E estendendo a mão
para seus discípulos, disse: ‘Eis minha mãe e meus irmãos; porque aquele
que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão,
irmã e mãe!’”
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, no Capítulo XIV de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, assim analisa esta passagem
evangélica:
“Os que encarnam numa família, sobretudo como parentes próximos, são, as
mais das vezes, Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações,
que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também
pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses
Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que
se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de
provação. Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e
sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os
Espíritos antes, durante e depois
de suas encarnações. Segue-se que dois seres nascidos de pais
diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo
sangue. Podem então atrair-se, buscar-se, sentir prazer quando juntos,
ao passo que dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, conforme se
observa todos os dias: problema moral que só o Espiritismo podia
resolver pela pluralidade das existências. (Cap. IV, nº 13.)
Há, pois, duas espécies de famílias: as famílias pelos laços espirituais e as famílias pelos laços corporais.
Duráveis, as primeiras se fortalecem pela purificação e se perpetuam no
mundo dos Espíritos, através das várias migrações da alma; as segundas,
frágeis como a matéria, se extinguem com o tempo e muitas vezes se
dissolvem moralmente, já na existência atual. Foi o que Jesus quis
tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e
meus irmãos pelos laços do Espírito, pois todo aquele que faz a vontade
de meu Pai que está nos céus é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” [1]

Kardec, no mesmo diapasão, esclarece, no item 18 do Capítulo IV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:
“No espaço, os Espíritos formam grupos ou famílias entrelaçados pela
afeição, pela simpatia e pela semelhança das inclinações. Ditosos por se
encontrarem juntos, esses Espíritos se buscam uns aos outros. (...) Se
uns encarnam e outros não, nem por isso deixam de estar unidos pelo
pensamento.” [2]
Na obra “Entre a Terra e o Céu”, Clarêncio orienta:
“A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros
estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a
visão daquele que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da
própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da
evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos
para a elevação. Isso podemos verificar nos círculos da matéria mais
densa. Temos constantemente corações que nos devotam estima e se
consagram ao nosso bem.” [3]
Naturalmente, essas passagens não nos devem jamais levar à conclusão de
que a família em que ora encarnamos é de pouca importância. Não nascemos
por acaso ou acidente em nenhum círculo familiar. Há pessoas que, em
momentos de rebeldia, afirmam que “não pediram para nascer”. Contudo,
ainda que não nos lembremos, a maioria da Humanidade terrestre pede
novas chances de aprendizado e reparação, dentro de nossas
possibilidades de maturidade moral e intelectual. Nascemos onde, quando e
com quem precisávamos, como lemos, por exemplo, nas respostas às
questões 184, 269, 334, 335, 338, 393, 572, 574, 950 e 986 de “O Livro
dos Espíritos”.
Portanto, temos, sim, de investir nosso melhor em nossa família
consanguínea, pois certamente temos muito a aprender e muito bem a fazer
a esses Espíritos. A lição trazida na passagem evangélica acima citada é
que fazemos parte da família das Humanidades, não só de toda a Terra,
mas de todo o Universo — e temos o dever de fazer o Bem a todos, a
começar pela família que temos em casa, mas não restritos a ela. O
Espírito Galileu corrobora essa ideia, no Capítulo VI de “A Gênese”:
“Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os
laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram postos a
esses mundos. Se os astros que se
harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o
são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por
seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de
encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de
novo, segundo suas mútuas simpatias. É a grande família dos
Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do
Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como
tipo primitivo e final da perfeição espiritual.” [4]
Espíritos de maior elevação moral e intelectual, os quais, por seu
empenho no Bem, atingem o direito de viver em mundos mais felizes, não
desfazem seus laços de afeição a quem amam e que, temporariamente,
seguem vivendo na Terra ou em outros mundos de Espíritos em etapas
evolutivas anteriores. Observemos o exemplo do Espírito denominado
Samuel Filipe, pessoa sempre empenhada em fazer o melhor por seu
semelhante, o que o qualificou a fazer uma transição tranquila para o
mundo espiritual. Questionado sobre o local onde habitara quando evocado
e sobre sua lembrança de seus entes queridos, assim argumentou:
“P. Esse mundo tão novo e comparado ao qual nada vale o nosso, bem como
os numerosos amigos que nele reencontrastes, fizeram-vos esquecer a
família e amigos encarnados?
— R. Se os tivesse esquecido seria indigno da felicidade de que gozo.
Deus não recompensa o egoísmo, pune-o. O mundo em que me vejo pode fazer
com que desdenhe a Terra, mas não os Espíritos nela encarnados. Somente
entre os homens é que a prosperidade faz esquecer os companheiros de
infortúnio. Muitas vezes venho visitar os que me são caros, exultando
com a recordação que de mim guardaram; assisto às suas diversões, e,
atraído por seus pensamentos, gozo se gozam ou sofro se sofrem.” [5]
A Terra, apesar de ainda estar longe da condição de mundo feliz, vem
demonstrando constante evolução. Kardec comenta a esse respeito em “A
Gênese”, lançado em 06 de janeiro de 1868, já observando, há quase 143
anos, movimentos mais comumente divulgados nos dias atuais:
“Hoje, a Humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca
tentou divisar, a fim de nutrir-se de ideias mais amplas e compreender o
que antes não compreendia. (...)
Essa fase já se revela por sinais inequívocos, por tentativas de
reformas úteis e que começam a encontrar eco. Assim é que vemos
fundar-se uma imensidade de instituições protetoras, civilizadoras e
emancipadoras, sob o influxo e por iniciativa de homens evidentemente
predestinados à obra da regeneração; que as leis penais se vão
apresentando dia a dia impregnadas de sentimentos mais humanos.
Enfraquecem-se os preconceitos de raça, os povos entram a considerar-se
membros de uma grande família; pela uniformidade e facilidade dos meios
de realizarem suas transações, eles suprimem as barreiras que os
separavam e de todos os pontos do mundo reúnem-se em comícios
universais, para as justas pacíficas da inteligência.
Falta, porém, a essas reformas uma base que permita se desenvolvam,
completem e consolidem; falta uma predisposição moral mais generalizada,
para fazer que elas frutifiquem e que as massas as acolham. Ainda aí há
um sinal característico da época, porque há o prelúdio do que se
efetuará em mais larga escala, à proporção que o terreno se for tornando
mais favorável.” [6]
Ao estudarmos as palavras de Jesus, assim como analisando, pela
História, a redução das fronteiras entre os povos, bem como estudando,
pela Física, a interligação de todos pelo Fluido Universal, sempre
chegamos à mesma conclusão: todos somos filhos do mesmo Criador, e,
portanto, uma única família, à qual nos compete auxiliar levando todo o
Bem que sabemos praticar, e aprendendo para praticar todo o Bem que
ainda nos caiba aprender.
Referências:
[1] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo XIV, item 8.
[2] KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. 97.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1987. Capítulo IV, item 18.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. “Entre a Terra e o Céu”. 17.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1997. Cap. 33.
[4] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo VI, item 56.
[5] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Segunda parte, Capítulo II. Samuel Filipe.
[6] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo XVIII, itens 20 e 21.