sábado, 20 de fevereiro de 2016

42. A CRÍTICA


      Convidado a fazer uma preleção sobre a crítica, o conferencista compareceu ante o auditório superlotado, sobraçando pequeno fardo. Após cumprimentar os presentes, retirou os livros e a jarra d'água de sobre a mesa, deixando somente a toalha branca.
      Em silêncio, acendeu poderosa lâmpada, enfeitou a mesa com dezenas de pérolas que trouxera no embrulho, várias dúzias de flores colhidas de corbelhas próximas. Logo após, apanhou da sacola diversos "biscuits" de inexprimível beleza, representando motivos edificantes, e enfileirou-os com graça.     
      Em seguida, situou na mesa um exemplar da Bíblia Sagrada em capa  dourada. Depois, com o assombro de todos, colocou uma pequenina lagartixa  num frasco de vidro.
       Só então comandou a palavra, perguntando:
       - Que vedes aqui, meus irmãos?
       E a assembléia respondeu, em vozes discordantes:
       - Um bicho! - Um lagarto horrível! - Uma larva! - Um pequeno monstro!
       Esgotados breves momentos de expectação, o pregador considerou:
       - Assim é o espírito da crítica destrutiva, meus amigos! Não enxergastes o forro de seda lirial, nem as flores, nem as pérolas, nem as preciosidades, nem a Bíblia Sagrada, nem a luz faiscante que acendi...vistes apenas a diminuta lagartixa...
       E concluiu:
       - Nada mais tenho a dizer... 

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